História em Quadrinhos não é coisa de criança! Ou melhor não é coisa apenas de criança, é uma lingua
gem extremamente rica e que pode ser usada para expressar qualquer tipo de conhecimento cientifico, jurídico, histórico, artístico e etc. em diversos gêneros como terror, erótico, humor, romance policial, ficção cientifica. Para todos os públicos. Inclusive para crianças. E aqui temos um ponto importante porque é na infância que se forma em grande parte o gosto pela arte em geral, e pelas HQs em particular. A imensa maioria dos leitores e mesmo dos artistas que se expressam nessa linguagem tiveram seus primeiros contatos com ela muito, muito jovens. E é portanto preciso estar atento à qualidade e formas de difusão dos quadrinhos para o público infantil.
Daniel Azulay embora tenha trabalhado também com outras linguagens e para outro público, ficou muito marcado por sua obra voltada para crianças. Não teve o sucesso comercial e o alcance de um Mauricio de Souza, e nem acho que esse fosse seu propósito, mas quem cresceu nos anos oitenta seguramente teve contato com seu programa de televisão. Tudo era muito mágico, com um certo ar ingênuo até. Desde verdadeiras aulas de construção de brinquedos com sucatas até a apresentação de seus personagens dos quadrinhos da “Turma do Lambe Lambe”. Professor Pirajá, Xicória, Gilda, Piparote... impossível para “Jovens anciãos” como eu não sentir saudades. Uma saudade boa, mas também dolorida. Azulay nos deixou no último dia vinte e sete de março, e aos setenta e dois anos guardava sua inesquecível feição angelical, uma “cara de criança” feliz e animada. Lutando contra uma leucemia acabou por contrair o Corona vírus. É difícil não pensar em quanto ainda perderemos de nossa arte, de nossa alegria e de pessoas queridas para essa pandemia e para a incompetência ou descaso de tantos gestores político/econômicos ao redor dessa terra, hoje mais plana do que plena.
Embora o coração esteja triste, para nos alegrar os olhos circulam na internet centenas de ilustrações homenageando nosso querido artista, demonstrando como foi importante seu trabalho, como inspirou tantos outros a também produzir arte, a contar suas histórias e a tentar tocar as pessoas. Diante do espelho da morte o que nos resta talvez seja refletir sobre os sentidos da vida, e como só é possível construir esses sentidos coletivamente. Daniel deixou um legado para toda uma geração. E sim! Sua vida valeu a pena, e sua alma continua... Grande.
Que tudo isso passe da forma menos cruel possível, e que não nos esqueçamos nunca mais: não existe sociedade saudável sem ciência, sem cultura, sem arte e sem afeto.
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