por Aline Ferreira Antunes
Convidada pela Confraria Bonelli à escrever para o seu site, optei, em tempos de quarentena, por relatar minhas pesquisas com as revistas Tex, do início. Sou formada em História pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e, portanto, minha leitura e minha escrita é acadêmica. Meu primeiro contato com Tex data da infância e juventude quando lia as revistas somente para divertimento. Foi com o ingresso na universidade que passei a olhar com outros interesses para as aventuras do ranger mais famoso e mais duradouro dos quadrinhos dedicados à temática western.
Arte: Guglielmo Letteri.
Em 2011/2012 fiz uma disciplina sobre História da América e pensei na possibilidade de utilizar as revistas do personagem Tex Willer como fontes para minhas pesquisas. À época, a UFU passou por uma das maiores greves da história da universidade (mais de 100 dias de greve pela educação) e este período me proporcionou dar um salto em minha pesquisa com os gibis disponíveis em casa.
Aos poucos, encorajada pela orientadora, Professora Dra. Mônica Brincalepe Campo, dei sequência à pesquisa com TEX, o que rendeu meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em 2015, requisito obrigatório para o Bacharelado em História. O trabalho, intitulado Tex Willer: O Mito do Herói Estadunidense Produzido na Itália, está disponível online para quem tiver interesse em ler na íntegra, pelo site da própria universidade.
Cartaz da exposição “Tex 70 Anos de um Mito” realizada em 2018/2019 em Milão na Itália.
No começo, minha pesquisa ainda era incipiente, então alguns fãs de Tex já leram o trabalho e já indicaram alguns erros ou lapsos de minha parte que foram corrigidos posteriormente. Isto faz parte da pesquisa e enriquece a mesma. É de extrema importância a participação dos fãs em minha trajetória de pesquisa e escrita, pois é o que proporciona um desenvolvimento e aprofundamento no tema. É o que enriquece meu texto. Cada vez que me aproximo mais dos fãs de Tex, mais meu trabalho cria asas e vejo novas possibilidades. Meu segundo trabalho foi desenvolvido no Mestrado em História e Cultura, também na UFU, sobre os tipos raciais presentes nas revistas Tex, os mais famosos, pelo menos, como: negros, chineses, mexicanos e, é claro, indígenas. Então neste trabalho abordei as revistas Tex do ponto de vista da relação interracial e a presença do personagem como intermediador de negros e indígenas, em sua minoria – Tex sempre intercede pelas minorias e faz a Lei ser aplicada em locais inóspitos como o Oeste. Intitulado Tex e os Tipos Raciais: 1953 – 2000, sob a orientação do Prof. Dr. Marcelo Lapuente Mahl. Meu terceiro trabalho, ainda em desenvolvimento, é o doutorado, fora da História, desta vez, estou me enveredando por caminhos das Performances Culturais e pretendo me aproximar muito mais dos fãs desta vez.
Alguns tipos raciais na Coleção Tex 3D da Centauria.
Em tempos de quarentena e de enfrentamento à algo que não era esperado pela humanidade, vemos a Itália e juntamente com ela a Sergio Bonelli Editore e consequentemente Tex serem atacados por vários lados e enfrentarem um problema maior que nós: o Covid-19. Por outro lado, estamos assistindo à inúmeras mudanças e aproximações, solidariedade entre as pessoas. Uma destas aproximações está contribuindo para minha pesquisa, que é o contato com fãs, por meio da Confraria Bonelli, e a possibilidade de utilizar um período tenebroso para o bem: para a produção de uma pesquisa séria, que contribua para o mercado de quadrinhos, que fale mais e mais de Tex.
Arte: Michele Guizzo.
Em meio à tempos sombrios e desérticos, é possível produzir flores de cactos, maravilhosas. Que minha pesquisa seja flores de cactos no meio do deserto. E que ela inspire outras pessoas a seguirem no caminho da academia com quadrinhos, que ela sirva de embasamento para outras/os pesquisadora/es que sejam fãs de HQs e que queiram ser mais que isso.
Arte: Giovanni Ticci.
Seguimos firmes na caminhada!!!
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